Cuscuz crioulo: milho ancestral plantado em Caruaru resiste ao tempo e conquista o mercado nacional

Cuscuz de milho de semente crioula em Caruaru O cultivo do milho crioulo no Assentamento Normandia, em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, tem transformado a vid...

Cuscuz crioulo: milho ancestral plantado em Caruaru resiste ao tempo e conquista o mercado nacional
Cuscuz crioulo: milho ancestral plantado em Caruaru resiste ao tempo e conquista o mercado nacional (Foto: Reprodução)

Cuscuz de milho de semente crioula em Caruaru O cultivo do milho crioulo no Assentamento Normandia, em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, tem transformado a vida de dezenas de famílias que vivem da agricultura familiar. O grão, sem transgenia e sem uso de agrotóxicos, é a base do flocão utilizado na produção do cuscuz comercializado pela cooperativa do assentamento. O milho é o mesmo plantado pelos antepassados, preservado ao longo de gerações. Só este ano, a produção coletiva alcançou 120 toneladas em áreas que somam 80 hectares. A colheita é enviada para agroindústrias, onde é beneficiada antes de seguir para a venda a programas governamentais e indústrias alimentícias. Para os agricultores, o cuscuz crioulo representa saúde e futuro. Por não ser transgênico, o milho mantém sua composição original e reduz a exposição dos trabalhadores e dos consumidores aos agrotóxicos utilizados em larga escala na agricultura industrial. Genésio Severino, aposentado, acumula quase 70 anos de trabalho na roça. Mesmo depois de se aposentar, não deixou de plantar. A paixão pelo milho é compartilhada com a esposa, Maria José, que dedicou 60 anos à lida rural. “Nós temos o milho como um patrimônio alimentar”, afirma Edilson Barbosa, agricultor e liderança da associação. “A semente é patrimônio da humanidade. Guardar e plantar no ano seguinte garante autonomia para o agricultor”, explica em entrevista à TV Asa Branca. Milho crioulo plantado no Assentamento Normandia, em Caruaru Reprodução/TV Asa Branca A autonomia das sementes evita gastos com a compra anual de variedades híbridas, que chegam a custar até R$ 60 o quilo. A cooperativa também comercializa o flocão para o Programa de Aquisição de Alimentos e já tem contrato com a Companhia Nacional de Abastecimento para compra de mais de 100 toneladas. Mais de 40 famílias vivem no assentamento. Antes empregados de fazendas, agora são donos de suas plantações. Para Seu Antônio Marques, essa mudança foi decisiva. “Quando você passa a trabalhar para você mesmo, já é uma grande vitória. Eu tenho orgulho de ser agricultor”, comemora. A união dos trabalhadores também aparece no armazenamento coletivo do milho, feito em silos de lona. A estrutura garante silagem e alimentação para os animais durante todo o ano, podendo chegar a 500 toneladas de ração. O milho, presente na mesa da região especialmente no período junino, também fortalece a cultura alimentar do Agreste. “A agricultura é muito boa. Tudo que a gente colhe é pra alimentação”, lembra Dona Maria, citando pamonha, canjica e milho cozido. Do roçado ao prato, o cuscuz crioulo leva consigo tradição, renda e a continuidade de uma história que resiste às mudanças do tempo e ao avanço das sementes modificadas. No semiárido, ele alimenta famílias e preserva raízes ancestrais.